quinta-feira, 6 de junho de 2019


                         Influências
        Minha vida foi uma caminhada voltada só para o Magistério.
       Mas quando decidi ser professora era uma menina sonhadora e achava que, a profissão era leve e teria uma vida boa, melhor que a maioria. Ledo engano! Na primeira escola, errei muito ao preencher os Livros de Matrícula, as Cadernetas de Chamada e os Resumos Mensais, que ninguém me ensinara no Curso Normal. Rasurei tanto esses livros que fiquei com vergonha de entregá-los na Inspetoria, no final do ano... Não existia corretor.
       E na alfabetização?
      As crianças de roça não conheciam lápis, borracha, caderno, livros, quadro negro (era negro mesmo!), giz, apagador. A molecada era louca para pegar os tocos de giz e levar para casa... Giz em cores? Só se eu comprasse. Aí, desperdício maior...
     A primeira lição da cartilha era a pior “Eu vejo a barriga do bebê” E a gente obrigava as crianças que mal conseguiam firmar o lápis entre os dedos, a escrever essa frase. E olhe que não tinham sido preparadas com exercícios de coordenação motora... (aqueles exercícios que todas as crianças do Pré Primário faziam desenhando o llllll manuscrito e emendado, enchendo linhas e páginas) para amaciar a mão e treinar a coordenação motora fina, diziam...
      A Direção da Escola ou a Inspetoria ocupada demais com questões burocráticas, nunca orientava professores recém formados, que assumiam classes lá nos quintos, onde o Judas perdera as botas... E ninguém, NINGUÉM mesmo nos ensinou a dar aulas para três séries diferentes!  Enquanto eu contava alguma coisa da História do Brasil para os alunos do 3º ano, os demais paravam de trabalhar e ficavam de boca aberta, ouvindo... Quando uma criança ia à lousa resolver um problema, todos paravam de trabalhar também... Como controlar tempo, espaço e turmas? Não foi brincadeira, não! Todos os dias eu me sentia tão perdida, tão incompetente, tão desastrada! Ah! Se tivesse alguém pra sanar minhas dúvidas! Mas, não havia ninguém! Só cabritos e boiadas... A Teoria na prática é outra! Senti isso nas escolinhas rurais, pois as teorias estudadas em Didática, em Psicologia, em Pedagogia e em Sociologia não se encaixavam na realidade que estava vivendo. A Escola Rural era uma aberração em termos pedagógicos, para os Professores cheios de ideias psico-pedagógicas. Tive um começo de total frustração. Eu me sentia uma incapaz, uma incompetente, completa idiota! Aos dezoito anos de idade, sozinha lá no fim do mundo tantas vezes tive vontade de sentar no chão e chorar, chorar, chorar...
       Mas, Deus o Grande Provedor colocou anjos no meu caminho...  Os nordestinos José João e a Valdete que me salvaram do desespero da primeira escola. Depois, colegas Professores e Diretores sempre me deram o estímulo necessário para seguir adiante. O começo foi difícil, mas pouco a pouco fui descobrindo a melhor forma para ensinar o alfabeto, as tabuadas, a interpretar textos, a entender a História do Brasil. E tudo isso entremeado de canções e hinos pátrios, além de aulas de civilidade e amor à Pátria, que todos os Professores passavam com naturalidade.
        Fui forjada como ser humano nas longas horas perdidas esperando um carro que não vinha, nas areias da estrada de Tabajara, nas caronas de pessoas generosas,  na bondade e simpatia de colegas, no carinho das crianças tão pobrezinhas que Deus colocou no meu caminho. Mas acima de tudo, eu me firmei como Professora nas escolas rurais multisseriadas, e sobretudo com a inestimável orientação do seu José Domingos Paschoal, que me ensinou a planejar aulas com objetividade, para poder avaliar o rendimento. Seu Zé Domingos foi meu Diretor no Grupo Escolar de Amandaba nos anos 60, e meu colega de trabalho no final de minha carreira na Supervisão em Andradina. E lá também ajudou, ensinando-me a consultar a Legislação sobre questões educacionais - Decretos, Leis, Resoluções, Portarias, Atos e seus incisos e parágrafos não são ensinados na Escola Normal, e eu era completamente ignorante disso. Mas um Supervisor se vê às vezes, diante de Recursos legais de Professores e Pais de alunos, que se julgam lesados em seus direitos... Na Supervisão participei de duas Sindicâncias, uma envolvendo uma Professora e outra envolvendo alunos... Supervisão não é brincadeira...
         Em 1992 eu me aposentei após 31 anos de trabalho ininterrupto. E posso afirmar que fui feliz como professora. Acredito que fiz a diferença na vida de centenas de crianças e jovens. Mas nada disso teria acontecido  sem que meu pai tivesse entendido  o meu sonho.                                                        Sonho de ser professora.
       Aqui quero deixar a minha gratidão a Deus e a todas as pessoas que de alguma forma me empurraram para cumprir essa missão.
         Porque ser Professor é cumprir uma missão.
         E exige vocação.
       
         Mirandópolis, junho de 2019.
         kimieoku in
         http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/


     



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