Faculdade
Nos anos 70 fomos informados que a
Secretaria da Educação iria instalar o Ginásio em todos os Grupos Escolares.
Iria estender os estudos de 1ª a 4ª até a 8ª séries e seria gratuito para
todos. Essa notícia foi muito bem recebida pela sociedade e criou um frisson entre os
professores. Mais classes seriam abertas e Professores de Nível II
(licenciatura curta) e III (licenciatura plena) seriam bem aproveitados, uma
vez que estavam passando dificuldades por falta de aulas. E para atuar no novo modelo pedagógico,
os professores primários deveriam se reciclar, cursando Pedagogia. Daí, todos
os Professores se matricularam em Faculdades particulares da região e voltaram
a estudar. Eu inclusive.
Mas, nessa altura, era difícil estudar, porque a maioria tinha
filhos, marido e uma casa para cuidar, além do trabalho diário nas escolas.
Então optamos por um curso meio vago em Dracena. Na Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras “Ministro Tarso Dutra.”
De repente, todos os Diretores, Inspetores de Ensino, e
grande parte dos Professores Primários lotaram as Faculdades. Em Dracena, a
vantagem era que podíamos frequentar apenas às sextas feiras. Mas as aulas
começavam às 13 horas e só terminavam às 23 horas. E daqui até lá são 90
quilômetros, dos quais 60 eram estrada de terra batida na época. Então era uma maratona
louca!... Eu descia de uma Kombi que me trazia de Amandaba, tomava um banho
rápido e entrava na Kombi da Faculdade... Todas as sextas feiras. Ou almoçava,
ou tomava banho... Eram seis peruas lotadas de professores, indo todas para
Dracena. Era duro por causa da poeira... Mas a Faculdade nos ofereceu um Curso de
Pedagogia pra ninguém botar defeito. Os Cursos estavam para ser aprovados pelo
Ministério da Educação, então capricharam nos programas e nos Professores. Mestres de qualidade
de São Paulo, de Bauru, do Paraná, que nos passavam tarefas a serem
apresentadas na aula seguinte, eram muito rigorosos e cobravam muito. Foi um tempo
difícil para todos, porque além de trabalhar todos os dias, tínhamos famílias e
as tarefas da Faculdade demandavam tempo. Mas eu aprendi muito. Valeu a pena! Até aprendi a fazer gráficos de Estatística!
O problema maior ainda era a viagem. A ida era tranquila, porque
havia sol e todos iam juntos. Uns motoristas socorriam outros nas dificuldades,
mas nem sempre a volta era em grupo. Quando chovia e a estrada ficava
intransitável, nunca sabíamos a que horas estaríamos de volta... Algumas vezes,
tínhamos que dar volta por Tabajara e Lavínia, outras por Valparaíso, e certa vez tivemos que dar volta por
Penápolis, porque os açudes haviam se rompido e a estrada tinha virado um rio.
Chegamos em casa à quatro horas da manhã... Eu me lembro que o Nori sempre
solícito e gentil, saía com as crianças aos sábados para
eu poder dormir mais um pouco... Foi um tempo muito difícil. Mas no final de
semana descansávamos e na segunda feira recomeçávamos tudo, com coragem. E
assim foi que consegui me habilitar em Administração Escolar e Supervisão de
Ensino em Dracena. Depois com algumas amigas fiz Orientação Educacional em Adamantina.
Em 1976, todos os Grupos Escolares se transformaram em Escolas
de 1º Grau, com ensino de 1ª a 8ª séries patrocinadas pelo Governo do Estado. Só
não ofereceu ensino de qualidade porque não tinha recursos para reciclar os
Professores. Reciclagem era de um mês ao máximo e os Professores em sua maioria
não deram muita importância a esses Cursos de férias. Muita reclamação e pouco
proveito...
Mas por conta das mudanças, como estava habilitada em
Administração Escolar assumi a função de Assistente de Direção em Amandaba. Trabalhava
de manhã e à noite. Foi então que conheci Professores de gabarito como a
Marieliza Bordoni, a Edna Lourenço, o Gabriel Tarcizzo Carbello e Luiz Roberto Marcos Pintenho. Gente que levava
a sério a tarefa de pesquisar e ensinar corretamente.
Nunca subi um degrau na minha profissão sem sacrifícios.
Sacrifícios meus e da minha família.
Tudo foi muito sofrido e custou muito caro.
Mas eu sempre acreditei em mim!
E nunca precisei de padrinhos.
Mirandópolis, junho de 2019.
kimie oku in
http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/
Nunca subi um degrau na minha profissão sem sacrifícios.
Sacrifícios meus e da minha família.
Tudo foi muito sofrido e custou muito caro.
Mas eu sempre acreditei em mim!
E nunca precisei de padrinhos.
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