domingo, 2 de junho de 2019

                
                 Faculdade
                                                        
       Nos anos 70 fomos informados que a Secretaria da Educação iria instalar o Ginásio em todos os Grupos Escolares. Iria estender os estudos de 1ª a 4ª até a 8ª séries e seria gratuito para todos. Essa notícia foi muito bem recebida pela sociedade e criou um frisson entre os professores. Mais classes seriam abertas e Professores de Nível II (licenciatura curta) e III (licenciatura plena) seriam bem aproveitados, uma vez que estavam passando  dificuldades por falta de aulas. E para atuar no novo modelo pedagógico, os professores primários deveriam se reciclar, cursando Pedagogia. Daí, todos os Professores se matricularam em Faculdades particulares da região e voltaram a estudar. Eu inclusive.
Mas, nessa altura, era difícil estudar, porque a maioria tinha filhos, marido e uma casa para cuidar, além do trabalho diário nas escolas. Então optamos por um curso meio vago em Dracena. Na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras “Ministro Tarso Dutra.”
De repente, todos os Diretores, Inspetores de Ensino, e grande parte dos Professores Primários lotaram as Faculdades. Em Dracena, a vantagem era que podíamos frequentar apenas às sextas feiras. Mas as aulas começavam às 13 horas e só terminavam às 23 horas. E daqui até lá são 90 quilômetros, dos quais 60 eram estrada de terra batida na época. Então era uma maratona louca!... Eu descia de uma Kombi que me trazia de Amandaba, tomava um banho rápido e entrava na Kombi da Faculdade... Todas as sextas feiras. Ou almoçava, ou tomava banho... Eram seis peruas lotadas de professores, indo todas para Dracena. Era duro por causa da poeira... Mas a Faculdade nos ofereceu um Curso de Pedagogia pra ninguém botar defeito. Os Cursos estavam para ser aprovados pelo Ministério da Educação, então capricharam nos programas e nos Professores. Mestres de qualidade de São Paulo, de Bauru, do Paraná, que nos passavam tarefas a serem apresentadas na aula seguinte, eram muito rigorosos e cobravam muito. Foi um tempo difícil para todos, porque além de trabalhar todos os dias, tínhamos famílias e as tarefas da Faculdade demandavam tempo. Mas eu aprendi muito. Valeu a pena! Até aprendi a fazer gráficos de Estatística!
O problema maior ainda era a viagem. A ida era tranquila, porque havia sol e todos iam juntos. Uns motoristas socorriam outros nas dificuldades, mas nem sempre a volta era em grupo. Quando chovia e a estrada ficava intransitável, nunca sabíamos a que horas estaríamos de volta... Algumas vezes, tínhamos que dar volta por Tabajara e Lavínia, outras por Valparaíso, e certa vez tivemos que dar volta por Penápolis, porque os açudes haviam se rompido e a estrada tinha virado um rio. Chegamos em casa à quatro horas da manhã... Eu me lembro que o Nori sempre solícito e gentil, saía com as crianças aos sábados para eu poder dormir mais um pouco... Foi um tempo muito difícil. Mas no final de semana descansávamos e na segunda feira recomeçávamos tudo, com coragem. E assim foi que consegui me habilitar em Administração Escolar e Supervisão de Ensino em Dracena. Depois com algumas amigas fiz Orientação Educacional em Adamantina.
Em 1976, todos os Grupos Escolares se transformaram em Escolas de 1º Grau, com ensino de 1ª a 8ª séries patrocinadas pelo Governo do Estado. Só não ofereceu ensino de qualidade porque não tinha recursos para reciclar os Professores. Reciclagem era de um mês ao máximo e os Professores em sua maioria não deram muita importância a esses Cursos de férias. Muita reclamação e pouco proveito...
Mas por conta das mudanças, como estava habilitada em Administração Escolar assumi a função de Assistente de Direção em Amandaba. Trabalhava de manhã e à noite. Foi então que conheci Professores de gabarito como a Marieliza Bordoni, a Edna Lourenço, o Gabriel Tarcizzo Carbello e Luiz Roberto Marcos Pintenho. Gente que levava a sério a tarefa de pesquisar e ensinar corretamente.
     Nunca subi um degrau na minha profissão sem sacrifícios. 
     Sacrifícios meus e da minha família.
     Tudo foi muito sofrido e custou muito caro.
     Mas eu sempre acreditei em mim!
     E nunca precisei de padrinhos.

      Mirandópolis, junho de 2019.
     kimie oku in
     http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/


           

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