quarta-feira, 5 de junho de 2019


Supervisão Escolar
       Enquanto professora, sempre quis saber mais, aprender mais, por isso vivia estudando, porque sempre fui muito curiosa.  E sabia que para crescer era preciso estar sempre preparada. Pegava os livros da Biblioteca da Escola e os lia para me informar. Sempre.
       Quando estava na Coordenação Pedagógica da Escola Ebe Aurora, a Secretaria  da Educação houve por bem realizar o Concurso de Supervisores Escolares, para conferir se as Escolas estavam funcionando dentro dos parâmetros ideais. Acho que foi em 1981/82. Passei! Daí dois anos fui chamada para escolher uma das vagas. Só havia vagas em Araçatuba, distante 70 km daqui. Na época eu tinha dois adolescentes e um caçula que ia entrar na Escola. Achei que não aguentaria morar em Araçatuba e deixar a família nessas circunstâncias... Quando anunciaram a minha desistência o salão onde ocorria essa escolha  na República quase veio abaixo, porque era a 1ª que ocorria. Os candidatos ficaram pasmos de saber da minha desistência! Todos eram idosos, quase no final de carreira e era a última chance de se aposentarem com um cargo melhor. E de repente do salão lotado, uma candidata veio até mim e perguntou porquê eu havia desistido. Respondi que optara pela família e ela me deu um abraço, desejando sucesso no futuro. Fiquei atônita, porque a pessoa me era totalmente estranha, e ela fez isso diante de toda aquela multidão...
       E Deus dispõe quando o sonho é grande. Novo Concurso e novamente passei! E aí, com a família mais organizada, pude escolher a Delegacia de Araçatuba. E tive a felicidade de ser "emprestada" para a DE. de Andradina, porque a Supervisora dona Áurea Calestini  Martinho Rodrigues estava respondendo pela Delegacia e eu pude substituí-la na Supervisão. Andradina dista apenas 35 quilômetros de Mirandópolis, metade de Araçatuba.
        Em Andradina trabalhei com José Beloto Jr., Narzira Zanellato do Lago, Jorge Chain Rezeke, Flávio Guirado Braga e a Diná, Adelaide Nóbrega, a Graça, a Irene, o Wilson, a Cidinha, a Sâmia, o Coca, e José Domingos Paschoal. Mas logo de cara, trombei com a velha guarda da Delegacia. Não aceitavam mudanças no processo de Alfabetização. Acreditavam piamente na Cartilha e nos métodos antigos. Foi difícil conviver com o grupo/dono do pedaço, que não acreditava em mudanças. Mas, me aliei a Maria Perpétua, responsável pela Orientação Pedagógica de Língua Portuguesa do antigo SEROPE e fizemos um Projeto de Alfabetização, nos moldes da Construção do Conhecimento. E passamos a orientar os professores alfabetizadores. Deu certo!  E em algumas Escolas, professoras perguntaram chorando porque demoramos tanto a chegar lá... Só que infelizmente constatei que, a resistência acontecia nas próprias escolas! Certos Diretores e Coordenadores do Ciclo Básico trancavam com cadeado, o material que vinha da Secretaria da Educação para os alunos. Material exclusivo para  eles juntarem as letras de plástico para formar palavras... Brincando com as letras coloridas na sala de aula. Mas os diretores nem abriam os pacotes para os meninos manusearem.. Boicote total! A troco de quê? Difícil lutar contra a ignorância! Bolas de borracha, de vôlei, de futebol e de basquete ficavam trancadas num cubículo, apodrecendo... Dezenas delas! E alguns Professores se queixavam que eram obrigados a brincar com bolas rombudas, furadas e tortas. Os Diretores não deixavam substitui-las, não sei por quê razão. E  as que estavam escondidas  iam perdendo a elasticidade, e a capa externa colava na mediana e era impossível brincar com elas, porque quicavam errado...
          Muita coisa não dá certo na Educação por conta da ignorância e do exercício de poder dos responsáveis. Poder dos mandantes.
       Também participei de greves. Fui com os colegas até a Praça da República protestar contra o Governo, que havia se esquecido dos Educadores... O governo nunca se lembra! As greves pouco valeram. Era apenas um período de grande tensão, em que boatos maldosos eram divulgados, e cobranças eram feitas a colegas que não queriam aderir. Ou fazia greve ou não. Não permitiam livre arbítrio. Houve uma greve que durou 45 dias! Foi muito ruim e desgastante. No final, os pais se revoltavam contra os professores...
          Na Supervisão tive muita alegrias. Visitei dezenas de Escolas da Delegacia de Andradina, incluindo as rurais e percebi que havia professores dedicados ao extremo e outros nem tanto. Que iam à Escola pelo salário simplesmente, que nunca foi grande coisa.
         De tudo que passei, constatei, sofri e aprendi tirei a seguinte conclusão:
      " Não adianta o Governo baixar Decretos para melhorar o Ensino, enquanto nas Escolas e nas Diretorias de Ensino reinarem os controladores, que só querem usufruir o bem estar atrás de mesas confortáveis, ocupando-se apenas com assuntos alheios à Educação." 
        Conheci dezenas deles, que nunca visitaram uma sala de aula, e viviam falando mal do governo, dos alunos e da sociedade. E só preocupados com aumento de salário...

        Mirandópolis,junho de 2019.
        kimie oku in
       http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/


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