quarta-feira, 26 de junho de 2019


            Viver para servir
       Há gente que passa pela vida sem nada realizar.
       Falta de oportunidade? Falta de vontade? Falta de inspiração?
       Estive num velório de uma amiga, que passou a vida inteirinha só ajudando outras pessoas, outras famílias e acredito que terminou com um travo amargo de não ter se realizado... E tenho uma ex aluna que passou a vida inteira servindo, ajudando patroas a criarem seus filhos, a encaminharem-nos, a realizarem seus sonhos... E hoje ela é uma mulher alquebrada, sem saúde, e não possui nada de seu. E os próprios filhos estão pelejando para sobreviver... E ela se orgulha de ter ajudado filhos alheios a se salvarem!
       A humanidade apresenta essas diversidades. Gente que chega ao topo da escala social, realizando sonhos nunca sonhados. E gente que nunca sai do anonimato, levando uma vida rasteira, sem sabor nenhum... Será justo isso?
       Li em algum lugar que, as sociedades modernas mantêm sempre um exército de mão de obra reserva de operários, para substituir os ativos em situações de emergência... Desempregados! Como em casos de epidemias, rebeliões, greves. Os patrões nunca perdem. Daí a razão das greves não serem eficazes...
       Mas, tenho um sentimento de compaixão por pessoas que passam pela vida sem nunca ter realizado um sonho. Escrever um poema, viajar para um lugar de sonhos, ganhar na Loteria, ser um líder na comunidade, ser um campeão em alguma atividade esportiva... Porque acredito que todos têm sonhos. Mesmo pequenos sonhos que tragam um sentimento de realização.
       E constato que noventa e nove por cento da humanidade leva a vida assim... Só trabalhando, só penando, só servindo. Sem nunca ser servido.
       Numa cidade como a nossa, há as autoridades, os pequenos empresários, os políticos, os pequenos donos de lojas e vendas, que perfazem um total de cinco por cento ou até menos da população. Os demais 95 por cento levam a vida a servir à minoria e concomitantemente servir à população. Parece um grande formigueiro, onde uma Rainha manda e milhões lhe prestam vassalagem. O que me dói não é o fato de servir, porque todos nós viemos a esse mundo com alguma função, e servir é uma delas.
O que me dói é o anonimato, a desimportância de suas vidas, nunca reconhecidas, nunca curtidas com alguma realização. Fico imaginando se cada um de nós pudesse realizar um sonho, um pequenino sonho que seja antes de deixar esse mundo, como seríamos felizes!
Eu tive a felicidade de ser professora e isso me basta. Porque interagi com centenas de alunos e os servi, encaminhando-os honestamente para seus destinos. Não sonho ser famosa, nem ser rica, nem viajar por esse mundo afora e nem chegar ao topo da escala social.
Mas gostaria que todas as Marias e todos os Josés deste mundo tivessem a glória de realizar pelo menos um sonho antes de partir. Para sentirem o sabor da vida.
A maioria passa pela vida em completa sensaboria.

Mirandópolis, junho de 2019.
kimie oku in


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