quinta-feira, 25 de julho de 2019


               Homógrafas
      
       O Ulisses Silva Lacerda me atentou para uma característica interessante de nossa Língua.
       Postei que “O campo me espera!” e o amigo me perguntou: “De gate ball?” Campo lembra espaços grandes e tem diferentes finalidades.
Nossas palavras podem ser usadas em várias situações, carregando significados diversos. Por isso, precisamos definir se o campo é de futebol, de gate ball, ou de sítio...
       Então, passei o dia pensando em palavras que têm escritas iguaizinhas, ou homógrafas com significados diferentes. Por exemplo, a palavra “manga” pode ser uma fruta tropical muito saborosa, ou parte de um vestuário, ou uma torrente de água. “Banana” é um fruta comum e muito saboreada, mas muda de figura na expressão “ele levantou o braço e deu uma banana para o povo” ou “Ele é um banana!” “Goiaba” também é uma fruta deliciosa, mas muda de significado em “Ele é um goiabão!”  
Outra palavra com vários usos é “folha”, que pode ser um apêndice de uma planta, ou peças finas e planas de papel, zinco, isopor, ouro... Ou folhas de caderno, de livros... E “botão” também é parte da vegetação que se abrirá em flor. Mas usamos botão para denominar pequenos acessórios que fecham nossos vestuários. E ainda para nos referirmos ao dial de rádios, de maquinários... E “galho” é uma extensão da planta, mas todo mundo usa “quebrar o galho” pra resolver pequenos problemas... Ou pior ainda: “Ele nem sabe que tem galhos na cabeça!”
       “Poço” é a denominação de um buraco feito na terra para retirar a água potável. Como quase sempre é um buraco profundo, costumamos dizer que “fulano é um poço de sabedoria... Ou de ignorância” E ainda tem a correspondente homófona, ou de som igual, mas que se escreve diferente “posso” que é do verbo poder.
       A palavra “beira” é uma redução de beirada e significa lateral, margem. Então é normal usar a expressão beira mar, beira rio. Mas usamos também para companhia, ao dizemos: “vou pegar uma beira”.
       Como vêm, a nossa Língua permite uma variação infinita de expressões usando apenas algumas palavras comuns.
       Então, vamos lá.  “Capa” se refere a uma cobertura geralmente de proteção contra o frio, contra a chuva, contra o pó, contra o vento. Mas pode ser usada para se referir à retirada de órgãos sexuais, do verbo capar ou castrar... Castrar os pedófilos!
       A palavra “Xadrez” se refere a um jogo bem antigo que requer muita perspicácia dos jogadores. Como no tabuleiro da vida tem os Peões (o povão), os Cavalos (armas), os Bispos (as eminências pardas que puxam os sacos dos poderosos), as Torres (os esconderijos), a Rainha e o Rei... E sempre o Rei tem que ganhar. Nunca os peões ganham porque são apenas pedras no caminho do Rei e da Rainha... Não gosto de xadrez, porque só o Rei e a Rainha é que têm valor... Como se pudessem existir sozinhos...  Só que a palavra Xadrez também é usada para se referir ao cárcere, ao xilindró, à cadeia, onde se depositam os bandidos e os criminosos. Vingança do povo para sujar a imagem nobre do Xadrez? E xadrez também é o tecido todo quadriculado, que o pessoal usava na roça, e hoje é usada em festas caipiras...
       E por aí vai. Infinitamente.
       Dá para se divertir muito descobrindo outras palavras homófonas e homógrafas. Isso é muito complicado para quem é estrangeiro e que quer aprender a nossa Língua.
Se bem que na Língua Japonesa também há expressões semelhantes. E dificultada mil vezes pelos complicados ideogramas, que mudam completamente de significado conforme o contexto... Por isso, não entendo direito os ditos populares japoneses....

Mirandópolis, julho de 2019.
kimie oku in
http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/



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