Homógrafas
O Ulisses Silva Lacerda me atentou para
uma característica interessante de nossa Língua.
Postei que “O campo me espera!” e o amigo
me perguntou: “De gate ball?” Campo lembra espaços grandes e tem diferentes finalidades.
Nossas palavras podem ser usadas em várias situações, carregando
significados diversos. Por isso, precisamos definir se o campo é de futebol, de
gate ball, ou de sítio...
Então, passei o dia pensando em palavras
que têm escritas iguaizinhas, ou homógrafas com significados diferentes. Por
exemplo, a palavra “manga” pode ser uma fruta tropical muito saborosa, ou parte
de um vestuário, ou uma torrente de água. “Banana” é um fruta comum e muito saboreada,
mas muda de figura na expressão “ele levantou o braço e deu uma banana para o povo”
ou “Ele é um banana!” “Goiaba” também é uma fruta deliciosa, mas muda de
significado em “Ele é um goiabão!”
Outra palavra com vários usos é “folha”, que pode ser um
apêndice de uma planta, ou peças finas e planas de papel, zinco, isopor,
ouro... Ou folhas de caderno, de livros... E “botão” também é parte da
vegetação que se abrirá em flor. Mas usamos botão para denominar pequenos
acessórios que fecham nossos vestuários. E ainda para nos referirmos ao dial de
rádios, de maquinários... E “galho” é uma extensão da planta, mas todo mundo
usa “quebrar o galho” pra resolver pequenos problemas... Ou pior ainda: “Ele nem
sabe que tem galhos na cabeça!”
“Poço”
é a denominação de um buraco feito na terra para retirar a água potável. Como
quase sempre é um buraco profundo, costumamos dizer que “fulano é um poço de
sabedoria... Ou de ignorância” E ainda tem a correspondente homófona, ou de som
igual, mas que se escreve diferente “posso” que é do verbo poder.
A palavra “beira” é uma redução de
beirada e significa lateral, margem. Então é normal usar a expressão beira mar,
beira rio. Mas usamos também para companhia, ao dizemos: “vou pegar uma beira”.
Como vêm, a nossa Língua permite uma
variação infinita de expressões usando apenas algumas palavras comuns.
Então, vamos lá. “Capa” se refere a uma cobertura geralmente
de proteção contra o frio, contra a chuva, contra o pó, contra o vento. Mas
pode ser usada para se referir à retirada de órgãos sexuais, do verbo capar ou
castrar... Castrar os pedófilos!
A palavra “Xadrez” se refere a um jogo
bem antigo que requer muita perspicácia dos jogadores. Como no tabuleiro da
vida tem os Peões (o povão), os Cavalos (armas), os Bispos (as eminências
pardas que puxam os sacos dos poderosos), as Torres (os esconderijos), a Rainha
e o Rei... E sempre o Rei tem que ganhar. Nunca os peões ganham porque são
apenas pedras no caminho do Rei e da Rainha... Não gosto de xadrez, porque só o
Rei e a Rainha é que têm valor... Como se pudessem existir sozinhos... Só que a palavra Xadrez também é usada para
se referir ao cárcere, ao xilindró, à cadeia, onde se depositam os bandidos e
os criminosos. Vingança do povo para sujar a imagem nobre do Xadrez? E xadrez
também é o tecido todo quadriculado, que o pessoal usava na roça, e hoje é
usada em festas caipiras...
E por aí vai. Infinitamente.
Dá para se divertir muito descobrindo
outras palavras homófonas e homógrafas. Isso é muito complicado para quem é
estrangeiro e que quer aprender a nossa Língua.
Se bem que na Língua Japonesa também há expressões semelhantes.
E dificultada mil vezes pelos complicados ideogramas, que mudam completamente
de significado conforme o contexto... Por isso, não entendo direito os ditos
populares japoneses....
Mirandópolis, julho de 2019.
kimie oku in
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