Pós vida
A gente nasce, cresce,
realiza alguns sonhos, envelhece e morre.
As fases da vida foram
comparadas várias vezes às estações do ano, Primavera que abrange do nascimento
aos anos juvenis; Verão que se refere aos anos de luta, de labor, de busca de
estabilidade; Outono que como folhas que caem tira as forças das pessoas; e Inverno quando vem a aposentadoria e deixa de produzir. É sem dúvida uma comparação bem lógica, pois o homem
como a natureza tem as suas fases.
Como disse Rabindranath
Tagore o poeta indiano: “A flor se transforma em fruto, o fruto vira semente,
volta a semente a ser planta, torna a planta abrir-se em flor” Não acho nenhuma
definição tão apropriada como essa para explicar o ciclo da vida.
Quando nos referimos às
Estações do ano, tudo parece bonito e
agradável. Mas, as estações apresentam seus contratempos, suas
estiagens, suas inundações, suas tempestades e seus ciclones. Assim também em
nossa vida, volta e meia se nos apresentam períodos de estio, de chuvarada sem
fim, de frio intenso que cobertor nenhum é capaz de nos aquecer.
A Primavera é sem
dúvida um tempo bom, que abrange a infância tão pura, a meninice tão cheia de
desafios, a escolaridade para matar a curiosidade, a adolescência tão
complicada e nunca entendida.
O Verão é o período
de busca de um caminho, de uma profissão, de uma justificativa para o fato de estar
aqui na terra. Tempo de produção intensa.
O Outono como as
folhas que vão amarelando e caindo, as forças vão deixando o ser enfraquecido
de tanta labuta e o ritmo vai diminuindo...
E no Inverno, com o
frio chega a aposentadoria, a velhice e todos os seus achaques. Reumatismo,
dores nas pernas, na coluna, audição fraca, olhos míopes, voz embaraçada, tosse
que irrita, joelhos que travam, e vontade de nada... Chamo essa fase de pós vida,
porque o indivíduo não é mais dono de si, porque devagarinho a vida está
deixando o seu corpo. O fluído da existência vai escorrendo para fora do corpo numa lenta e contínua sangria...
Pós vida é esse
interstício entre a aposentadoria e a queda final. Eu estou nessa fase, e luto
diariamente para não entregar os pontos. Alongo o meu corpo diariamente, faço
caminhadas, flexões com os braços, as pernas, a cabeça, os pés, as mãos... Fisioterapia para as hérnias de disco não me incomodarem... E ando. Vou ao
Banco, à Farmácia, ao Açougue, aos Bazares e Livrarias, à Mercearia do Jomar...
Sempre a pé. Porque é uma oportunidade de movimentar o corpo, alongar as pernas,
esticar o esqueleto.
Tenho um amigo que
há dois anos estava muito bem, andava, ia às compras, dirigia o carro, conversava normalmente, me reconhecia, me acompanhava
até o portão quando o visitava. De repente, ele parou de se mexer... Ficava o
tempo todo deitado no sofá, vendo tevê. Hoje ele é um caco. Não anda mais, não
consegue nem fazer a barba, não consegue tomar banho sozinho... Tá lá deitado
de boca aberta, esperando a morte chegar... É uma figura feia, aterradora. Muito
triste.
Não quero terminar assim.
Quando chegar a hora, quero cair de uma queda só.
Pós vida é muito triste.
Por isso é preciso se mexer para não se transformar num fóssil.
Mirandópolis, julho de 2019.
kimie oku in
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