Uma amiga me
perguntou se eu acredito em destino. Sim, acredito, piamente. Estranhas coisas
já me aconteceram para provar isso. Coisas inesperadas que ocorrem
repentinamente, sem explicação.
Há mais de dez anos,
um jovem que frequentava a minha casa percebeu que, eu estava sempre estudando
a Língua Japonesa. Mas, ele nunca comentou nada, e só ficava observando...
Um dia, me apareceu em casa com uma porção de
livros e revistas japonesas, perguntando se seriam úteis para mim... Fiquei
surpresa porque o moço era totalmente brasileiro, sem nada a ver com a
literatura oriental. Nem a ocidental.
Ele contou que o pai de seu patrão havia
falecido e o filho resolveu fazer uma faxina no quarto. Achou os livros, fez um
monte no chão e foi queimá-los. Quando o meu amigo viu aquilo, lembrou-se de
meu empenho em copiar textos japoneses, e resolver pegar alguma coisa para
mim... Aleatoriamente.
E dentre eles havia um Dicionário Japonês antigo,
amarelado, de capa verde de couro, que deve ter sido bastante folheado pelo seu
dono. Num cantinho da contra capa estava a assinatura dele Kubo em português.
Peguei o livro com cuidado e percebi que fora
editado no Japão em 1963 e em 1967. E fiquei imaginando como viera parar aqui.
De navio? Na mala de quem? Quando? Percebi que eu nada sabia desse objeto
cultural, que eu ganhara por um feliz acaso. Ia ser incinerado e era uma
relíquia! Por quê viera ter às minhas mãos? Fiquei tão gratificada que, pensei
em ir até ao cemitério numa cidade da região, onde está enterrado o senhor Kubo
que nunca conheci, para lhe agradecer. E, sobretudo pedir licença para usar o
presente que viera dele, sem nenhum merecimento meu. Mas o meu amigo foi embora
e perdi o contato... Então, fiz uma oração para o senhor Kubo diante do
Dicionário, lhe agradecendo o presente. E fiz uma anotação para que quem o herdar
um dia, saiba de quem era...
E desde então, nas minhas consultas recorro a
esse pequeno Dicionário, que tem me salvado em várias dificuldades.
Estranhos caminhos percorreu esse pequeno
livro, que tem folhas finas, quase de papel bíblia, que contém também palavras
que já caíram em desuso e que é essencialmente escrito em japonês.
Inicialmente fiquei meio receosa de
folheá-lo, por não me pertencer de direito... Mas, ao me lembrar que seria
incinerado pensei que realmente fora destinado a mim. E o uso sem remorsos.
E desde então, tenho usado com cuidado, com
reverência até porque deve ter sido com certeza, uma preciosidade para o antigo
dono.
Às vezes penso que teve um vento soprado por
meu pai, para que eu continuasse a estudar os kanjis que ele tanto amou...
Faz mais de dez anos que o uso e sempre carrego
um sentimento de dívida para com o senhor Kubo, por ter me apossado de algo que
não deveria ser meu...
Arigatougozaimashita, Kubosama!
Taisetsuni shimasu!
Mirandópolis fevereiro de 2020.
kimie oku
in
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