terça-feira, 4 de fevereiro de 2020


                Destino...
      Uma amiga me perguntou se eu acredito em destino. Sim, acredito, piamente. Estranhas coisas já me aconteceram para provar isso. Coisas inesperadas que ocorrem repentinamente, sem explicação.
      Há mais de dez anos, um jovem que frequentava a minha casa percebeu que, eu estava sempre estudando a Língua Japonesa. Mas, ele nunca comentou nada, e só ficava observando...
Um dia, me apareceu em casa com uma porção de livros e revistas japonesas, perguntando se seriam úteis para mim... Fiquei surpresa porque o moço era totalmente brasileiro, sem nada a ver com a literatura oriental. Nem a ocidental.
Ele contou que o pai de seu patrão havia falecido e o filho resolveu fazer uma faxina no quarto. Achou os livros, fez um monte no chão e foi queimá-los. Quando o meu amigo viu aquilo, lembrou-se de meu empenho em copiar textos japoneses, e resolver pegar alguma coisa para mim... Aleatoriamente.
E dentre eles havia um Dicionário Japonês antigo, amarelado, de capa verde de couro, que deve ter sido bastante folheado pelo seu dono. Num cantinho da contra capa estava a assinatura dele Kubo em português.
Peguei o livro com cuidado e percebi que fora editado no Japão em 1963 e em 1967. E fiquei imaginando como viera parar aqui. De navio? Na mala de quem? Quando? Percebi que eu nada sabia desse objeto cultural, que eu ganhara por um feliz acaso. Ia ser incinerado e era uma relíquia! Por quê viera ter às minhas mãos? Fiquei tão gratificada que, pensei em ir até ao cemitério numa cidade da região, onde está enterrado o senhor Kubo que nunca conheci, para lhe agradecer. E, sobretudo pedir licença para usar o presente que viera dele, sem nenhum merecimento meu. Mas o meu amigo foi embora e perdi o contato... Então, fiz uma oração para o senhor Kubo diante do Dicionário, lhe agradecendo o presente. E fiz uma anotação para que quem o herdar um dia, saiba de quem era...
E desde então, nas minhas consultas recorro a esse pequeno Dicionário, que tem me salvado em várias dificuldades.
Estranhos caminhos percorreu esse pequeno livro, que tem folhas finas, quase de papel bíblia, que contém também palavras que já caíram em desuso e que é essencialmente escrito em japonês.
Inicialmente fiquei meio receosa de folheá-lo, por não me pertencer de direito... Mas, ao me lembrar que seria incinerado pensei que realmente fora destinado a mim. E o uso sem remorsos.
E desde então, tenho usado com cuidado, com reverência até porque deve ter sido com certeza, uma preciosidade para o antigo dono.  
Às vezes penso que teve um vento soprado por meu pai, para que eu continuasse a estudar os kanjis que ele tanto amou...
Faz mais de dez anos que o uso e sempre carrego um sentimento de dívida para com o senhor Kubo, por ter me apossado de algo que não deveria ser meu...
Então, hoje resolvi contar essa história que prova que existe Destino, sim!
Arigatougozaimashita, Kubosama!
Taisetsuni shimasu!
Mirandópolis fevereiro de 2020.
kimie oku in
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