sábado, 1 de fevereiro de 2020


     Wabi Sabi
    Wabi Sabi é uma expressão japonesa que sintetiza a aceitação da brevidade e da imperfeição de tudo. Porque neste mundo tudo nasce, vive e morre tão depressa como nasceu. E isso é um fato inexorável, que ninguém pode evitar.
      Tenho carregado esse sentimento ultimamente e só descobri o nome disso agora através de um post no Grupo Caligrafia Japonesa e Kanji.
      Fui durante muito tempo uma pessoa exigente, e que não permitia falhas minhas e alheias... Acredito que deve ter sido difícil para os meus familiares me aguentarem... E os meus alunos, então?
      Mas, ao longo dos anos, conforme fui levando tombos pela vida afora e envelhecendo, acabei aprendendo a ser mais tolerante, mesmo porque nem todo mundo pensa igual a gente.
Tem um provérbio japonês que define de maneira perfeita o crescimento de um ser humano: “ Quanto mais amadurece a espiga de arroz mais pende para o chão.”  É sobre a humildade, que começa com a arrogância do jovem que imagina dominar o mundo, e aos poucos vai percebendo que nada sabe, e se rende às experiências e aos conhecimentos dos mais velhos. Também fui jovem, também acreditava saber tanto, também desprezava quem não procurava o conhecimento...
Hoje já perto de oito décadas de existência e tendo passado por momentos muito difíceis, aprendi a olhar o outro lado da moeda. Não pensem que não tive sonhos grandiosos, como morar num palacete e ser tratada como uma princesa... Sonhos tolos e tão vazios...
Mas, olhando para trás, percebi que há tanta gente que luta todos os dias só pra sobreviver, e leva a vida numa boa sem se queixar, sem imprecar contra o destino, sem culpar ninguém por sua vida tão limitada. Então, aprendi a respeitar esses heróis anônimos, que passam pela vida sem ter realizado um único sonho sequer, mas  cumprem sua humilde missão de servir, servir até morrer. E foi então que, passei a prestar atenção nas pequeninas coisas que fazem a diferença de cada momento. Um beija-flor que entra na minha sala por engano (ou por Deus!) e abençoa a minha casa... Uma flor que desabrocha esplendidamente e alegra o meu despertar... Um ex aluno que aparece em casa depois de trinta anos, para me dar um abraço... Uma amiga que me convida para um cafezinho... Lá fora há uma guerra sendo travada entre pessoas disputando o poder. Mas, aqui no cantinho, na vizinhança reina a paz de trocar figurinhas e demonstrar o bem querer...
A vida é tão breve, apenas um instante e perdemos tanto tempo nos magoando por coisas miúdas que nem valem a pena. Dinheiro? Riqueza? Glória? Fama? Todos que tiveram isso estão mortos e esquecidos, só restando uma lápide em alguma campa com seu nome. Apenas um nome. Mesmo os heróis da Pátria, os santos do pedaço, os gênios da Medicina, os cantores mais badalados são apenas uns nomes no final da história. Que serão esquecidos... Então, pra quê correr tanto atrás de glórias? De sucesso? De fortunas?
Tudo passa. As tristezas, as alegrias, as paixões, os grandes amores, as traições... São como punhados de areia que escorrem por entre os dedos, deixando apenas uma pequena lembrança.
Aceitar a transitoriedade da vida é também aceitar a partida dos pais, irmãos e até dos filhos. Aceitar a imperfeição da vida é compreender o incompreensível, como os rancores, as palavras mal faladas, os ciúmes gratuitos, a inveja que corrói.
Mas, como somos feitos de sangue quente, não é fácil chegar a esse nível de aceitação. Teríamos que nos anular para perdoar certas rasteiras e certas traições... Porém, não há outro caminho. O caminho do olho por olho e dente por dente é devastador. Ele apodrece a alma. E só traz mais sofrimento.
Então, melhor mesmo é cultivar o Wabi Sabi e aceitar a vida como ela é: cheia de surpresas, de contratempos, de ilusões e raros momentos de alegria.
Então brindemos o momento que estamos passando!
Aproveitemos tudo que está acontecendo à nossa volta. Não importa se é feio ou bonito, se é alegre ou triste, tudo é uma lição.
Vamos saborear o vinho da vida até a última gota!
Wabi Sabi!
Carpe Diem amigos!


Mirandópolis, fevereiro de 2020.
kimie oku in



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