quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020


               日の丸 Hinomaru
               
         Bandeira do Brasil,
         ninguém te manchará!
        Teu povo varonil
        isso não permitirá!

Trecho de uma canção que ensinei as crianças a cantarem nos meus idos de professora. Era jovem e tinha paixão pelas coisas da terra, do Brasil. Havia respeito e veneração pelos símbolos da Pátria, e tentei passar alguma coisa assim para os educandos. Ensinei que no país temos três símbolos nacionais, a Bandeira, o Hino Pátrio e o Selo Nacional. E cobrava dos alunos para que não se esquecessem.
O tempo passou e tudo mudou. Banalizaram a Bandeira, o Hino é cantado mascando chicletes, e o Selo está carimbando negociatas escusas por nossos “honrados políticos”.
Decepcionada? Demais!
A Bandeira é um emblema para distinguir países ou nações. Ela sempre foi considerada o símbolo máxima de um povo, e tratada com respeito e certa veneração. Não se hasteia a bandeira por motivos torpes, banais e nem por brincadeira. Sempre exige solenidade.
Hoje tudo é diferente. As pessoas usam a Bandeira nacional como um objeto qualquer, se enrolam nela como se fosse apenas um pano barato e todo mundo aceita. A Bandeira ficou popular? Ficou! Mas, gostaria que fosse tratada com mais respeito.
Descobri há pouco no grupo Caligrafia Japonesa e Kanji que, a Bandeira do Japão não é um retângulo branco com um círculo vermelho no centro. De verdade mesmo, é um retângulo branco com um círculo carmesim ao centro. Isso significa que o vermelho é mais forte. Sinceramente eu não sabia...
E pensando bem, percebi que os japoneses não usam bandeiras do Japão em tecido para saudar outras pessoas, mesmo que autoridades visitantes. As bandeirinhas são sempre de papel pregada numa varinha para segurá-las. De tal forma que descartá-las não se constitui num problema. O tratamento é bem diferente. Bandeira de tecido só nos mastros e junto de lugares oficiais.
Mas o quê significa aquela bola carmesim no fundo branco? Significa o Sol, pois conforme uma lenda, o Japão é o país onde o Sol nasce e o Imperador descende de Amaterasu, a Deusa do Sol. Lendas... Apenas lendas... O maior símbolo do Japão nasceu de uma lenda! Nada tem de concreto nessa história, e eu acho isso muito estranho... Inacreditável.
A primeira bandeira com um sol no centro foi ofertada ao Imperador, que partiu para enfrentar os mongóis por Nichiren, um sacerdote budista que acreditava na divindade do Imperador.  E em 701, o Imperador Mommu a teria usado, assim como o Xogum Tokugawa Ieyasu no século XIII.  Ela passou a ser usada com mais frequência a partir da Era Meiji, que modernizaria o Japão. E somente em 13 de agosto de 1999, foi adotada oficialmente junto com o Hino Nacional Kimiga yo. A bandeira japonesa é conhecida popularmente como Hino Maru, bandeira do sol nascente, mas oficialmente se chama Nisshoki ou bandeira do sol.
Há uma versão de Hinomaru, que foi adotada pela Marinha Japonesa. A diferença é que do círculo carmesim saem 16 raios sobre o fundo branco. É muito bonita e marcante. Infelizmente ela acabou se tornando símbolo de guerra, porque foi usada pelo Exército, em suas investidas contra a Rússia, a China e a Coréia do Sul. E desventuradamente, os soldados japoneses cometeram atrocidades por onde passaram, que até hoje essa bandeira é tão odiada pelos russos, chineses e coreanos tanto quanto a suástica o é pelos judeus do mundo inteiro... A marca que ficou...
Pelo Tratado de Paz de São Francisco assinado em 1949 pós guerra, entre o Japão e as Forças Aliadas, essa Bandeira do sol nascente foi banida. Entretanto, grupos radicais contrários à presença estrangeira no Japão, gostam de usá-la em seus protestos e manifestações. Acho que é mais para provocações...
O que penso disso tudo?
É bonito ter um emblema para definir um povo, uma nação, assim como antigamente as tribos usavam totens e máscaras... Mas, a bandeira por ser emblemática nunca deve ser usada para arrasar povoações, destruindo vidas preciosas. As vidas dos inimigos são preciosas para seus familiares, assim como são preciosas as de nossos soldados e familiares. Então, pra quê serve a bandeira? 
Para identificar um povo que trabalha, que constrói, que produz. A imagem mais bonita que temos da bandeira brasileira tremulando, com certeza é a de Ayrton Sena em suas voltas vitoriosas. Saudades e gratidão imensa pelos momentos gloriosos que nos proporcionou, Ayrton Sena!
Pela bandeira Hinomaru, membros da Shindo Renmei quiseram matar um Cabo de Polícia aqui no Brasil. E mataram seus conterrâneos, movidos por uma fé cega e destruidora. Fanatismo exacerbado que tomou conta daquela gente. Por um pedaço de pano... Então, que dizer das guerras?
Guerra? É a maior tragédia que o homem inventou. Numa guerra nunca há vitoriosos. Só vencidos. Só destroçados, só arrasados... Então, qual seria a solução?
“Imagine que não houvesse nenhum país.
Não é difícil imaginar.
Nada por que matar ou morrer.
E nenhuma Religião também.
Imagine todas as pessoas
vivendo a vida em paz.”  
John Lennon (1940/1980)
Uma vida é mais preciosa que qualquer bandeira do mundo.
Bandeira é criação do homem.
E vida é obra de Deus!

Mirandópolis, fevereiro de 2020.
kimie oku in
 

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