戦争 - Guerra!
Não gosto de guerras, mas
tenho que abordar sobre a participação do Japão na Segunda Guerra Mundial,
porque a próxima crônica tem a ver com guerras...
A Segunda Guerra Mundial começou em 1939, com a invasão da Polônia
pela Alemanha. A Alemanha era comandada por Hitler, um austríaco que se
infiltrara no Exército alemão e chegou à Presidência do país. Hitler havia
anexado a Áustria sua terra natal, atacara a Tchecoslováquia e agora invadira a
Polônia. Porém, seus vizinhos franceses e ingleses preocupados com esse
movimento expansionista da Alemanha, partiram para o ataque, para conter o
poderoso exército alemão. E logo, com a adesão da Rússia, dos Estados Unidos e
de outros países acabou se tornando um conflito internacional.
Era a Segunda Guerra Mundial!
Contra os Países do Eixo composto pela Alemanha Nazista de Hitler,
Itália Fascista de Benito Mussolini e Japão de Monarquia absoluta do Imperador
Hiroíto. Todos esses três países ambicionavam expandir seus territórios. Japão
estava tentando conquistar territórios na China e na Coréia. Hitler queria ter
a Europa toda sob seu comando...
Do outro lado estavam os Aliados Inglaterra, França, Rússia e
Estados Unidos. O Brasil aderiu a essa Guerra, porque os alemães afundaram
quatro navios mercantes brasileiros. Nessa altura, vários países se envolveram,
temendo Hitler e Mussolini. A Segunda Guerra Mundial seria a maior tragédia
perpetrada pelos humanos contra a própria humanidade.
Com o posicionamento do Brasil contra os países do Eixo, estava
declarada a guerra contra o Japão. Isso afetou demais os duzentos mil japoneses
radicados aqui. Muitos jovens maiores de idade foram convocados, para se
alinharem ao Exército Japonês... Convocados, voltaram ao Japão para defender a
pátria distante. Foi um frisson e a agitação só tendia a crescer. Os japoneses
imigrantes torciam pela vitória do Japão, mesmo morando no Brasil... É que seus
filhos, irmãos ou esposos estavam
combatendo no front. Contra os anseios dos brasileiros, que torciam pelos
Aliados. Então, começaram os conflitos entre brasileiros e japoneses, por conta
da guerra lá no Pacífico.
O Presidente Getúlio Vargas temendo um levante, baixou leis duras proibindo os estrangeiros alemães,
italianos e japoneses que aqui residiam de falar a língua materna, e de se
reunirem em grupos. Fechou todas as Escolinhas japonesas que ensinavam a
alfabetização. Muitas colônias japonesas transferiram essas escolas para o meio
da floresta, porque não admitiam criar os filhos sem o conhecimento da língua
materna. Como eu nasci em 1942 não pude estudar, porque onde nós morávamos não
havia mais essas Escolas...
O governo mandou recolher todas as armas em poder dos imigrantes.
As armas de fogo eram necessárias porque moravam no meio da mata virgem, onde
havia animais ferozes. Conforme depoimento de um irmão meu, os moradores da
Colônia Japonesa do Bairro União em Lavínia se anteciparam às ordens da Polícia
local, que ameaçava ir às casas buscar as armas. Juntaram dois sacos de armas,
e a cavalo papai e um amigo foram entregá-las às autoridades... Entretanto por
um acordo tácito entre os patrícios, as melhores armas foram enterradas, para
não serem confiscadas. As outras nunca mais veriam...
Também teve um lance de prenderem todos os jogadores de beisebol,
que estavam jogando em comemoração ao aniversário do Imperador do Japão, lá no
Bairro Oriente, onde morávamos... Eram proibidas pelas Leis de Getúlio reuniões
e festas, mas os japoneses não deixariam de comemorar o aniversário do
Imperador, que mesmo de tão longe reverenciavam como súditos fieis... Aí chegou
um caminhão e levou todo mundo preso, inclusive papai e dois irmãos meus que eram
menores de idade. Em Lavínia ficaram todos amontoados na Cadeia Pública, que
não havia tantas celas para umas trinta pessoas. Então, à noite os japoneses da
cidade prepararam uma boa refeição, e a levaram para os presos em solidariedade.
E esses mesmos japoneses se acamparam diante da Delegacia pedindo para o
Delegado liberar os presos. Depois de uma noite e um dia de negociações, ele
acabou cedendo. Mesmo porque a Delegacia nem comportava tanta gente. Essa
prisão gerou mais revolta e começaram os desentendimentos mais sérios entre
japoneses e brasileiros.
A Polícia tinha ordem de prender todos os japoneses, italianos e
alemães que estivessem se reunindo em grupos e falando na língua de origem.
Ora, os japoneses não sabiam se comunicar em outra língua, e volta e meia
alguém era advertido. As rixas se multiplicavam a cada dia. E havia também
policiais e policiais...
Em Tupã, estado de São Paulo, policiais foram averiguar uma reunião
de japoneses. Devido à guerra, o sentimento nacionalista japonês estava à flor
da pele, pois muitos tinham familiares pelejando na guerra... Um Cabo chegou e
deu ordens para encerrarem a reunião, porque suspeitou que estavam tramando
alguma coisa. Havia uma Bandeira japonesa bem na entrada, para reafirmar o
sentimento de devoção à pátria distante. Mandou retirá-la e, quando ouviu que
ela era sagrada para os japoneses, ele os provocou pisoteando-a com botas cheias
de excremento de bois...
Isso foi o estopim para uma guerra aqui no Brasil.
Depois eu conto o resto.
Mirandópolis, fevereiro de 2020.
kimie oku in
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