sábado, 22 de fevereiro de 2020

       O bambu

Por ter ascendência nipônica, cresci em sítios, onde havia moitas de bambu. Anos mais tarde, soube que antigamente os japoneses do Japão se refugiavam durante os terremotos, nas moitas de bambu. As touceiras do bambuzal formam um enraizado todo trançado como uma rede bastante firme no subsolo, que os terremotos mais comuns não conseguem desmanchar. E assim, serviam de refúgio e proteção, quando os cataclismos chegavam e, rachavam o chão em valetas assustadoras.
Os imigrantes japoneses chegando ao Brasil plantaram muitos bambuzais, mesmo sabendo que aqui não ocorriam essas tragédias.
Ah! A sombra fresca dos bambuzais... Mas, a serventia deles para nós estava ligada à alimentação. Brotos de bambu foram muito consumidos por todas as famílias de imigrantes naqueles tempos difíceis, e de alguma forma sustentou a nossa saúde, fornecendo-nos fibras ricas em proteínas vegetais, aminoácidos, cálcio, fósforo e vitaminas. Além disso, dizem que o consumo de bambu pode prevenir doenças cardiovasculares e o câncer.
Todos os pequenos proprietários rurais japoneses tinham moitas de bambu no quintal. As varas flexíveis eram utilizadas para se fazer cestas para colher frutas, verduras e ovos; e balaios para a colheita do algodão. Os próprios japoneses confeccionavam essas cestas e esses balaios, que foram muito úteis naquela época. Mais tarde, as longas varas de bambu por serem ocas, foram utilizadas como canaletas para levar água às galinhas das granjas. Ainda não existiam esses cochos de plástico, que facilitaram bastante o trabalho do granjeiro. Até hoje, as varas ainda são usadas para a pescaria.
Atualmente são raras as pessoas que conseguem confeccionar balaios e cestas. E os sítios onde há moitas imensas de bambu com certeza, já foram pertences aos japoneses. Nos tempos atuais, em que o homem devastou todas as florestas, acabando com as árvores que forneciam madeiras de lei como jequitibá, aroeira, cedro, peroba, cabreúva e outras, a alternativa que restou foi o bambu. E tem gente especializada analisando essa madeira leve e reta, que está sendo largamente utilizada na confecção de móveis, e na edificação de prédios resistentes a terremotos.
O bambu é muito aproveitado nos países orientais, como a China, a Coréia e o Japão. Pesquisando descobri que existem cerca de 1250 variedades de bambu, que podem ser lenhosos ou herbáceos. Há bambus de diversas cores, que vão do amarelo, verde, mesclado de verde e amarelo, roxo, marrom e até vermelho. Eu só conheço os verdes e os verde/amarelo. Cada tipo tem a sua serventia.
Os brotos de bambu são muito utilizados na culinária oriental  consumidos como saladas, ou refogados com frango, com carne de porco, em yakisobas... Há uma infinidade de pratos, e até são aproveitados como picles, que são deliciosos.
Os sábios da China e do Japão tiraram muitas lições observando o desenvolvimento de um bambuzal.  A qualidade mais decantada é a flexibilidade de seus galhos. Por serem flexíveis, os galhos não se quebram facilmente, como os galhos de outras árvores conhecidas. Os homens também têm que ser flexíveis para conviver com as diferenças nesse mundo. Outra qualidade que se destaca é que o bambu só se desenvolve em touceiras, com galhos se apoiando em outros galhos, formando um emaranhado difícil de derrubar. Se crescesse sozinho, não teria forças para vencer os ventos e os temporais, mas em formação de moitas conseguem parar e vencer os vendavais.  O homem sozinho nada é, nada pode. Mas, em grupo, unidos no mesmo ideal, podem conquistar o mundo. Além disso, o bambu cresce sempre para cima, para o alto, buscando a luz do sol e suas varas chegam a comprimentos incríveis. O homem deve também ter seus objetivos, e procurar sempre crescer, para se aperfeiçoar.
Como o bambu tem um talhe elegante, com talos finos e folhas longas e delicadas, foi muito usado como modelo nas pinturas zen. Nas pinturas de sumiê, ou a carvão, o motivo bambu está sempre presente, assim como nas porcelanas orientais, famosas no mundo inteiro. Eu mesma tenho porcelanas com motivos de bambu, e recentemente ganhei um joguinho de saquê com desenhos de bambu. Eu os aprecio muito.
O que dizer mais? Ah! Os primeiros instrumentos musicais devem ter sido feitos de bambu, por causa da sonoridade natural que há nos canos ocos. Há uma flauta de bambu, o shakuhachi japonês, feito de um bambu rústico, que tem uma sonoridade de arrepiar. Ele reproduz com perfeição os sons do vento, das águas do rio, da chuva... Aprecio muito o shakuhachi.
Gosto de ficar perto de bambuzais, porque eles têm uma sonoridade diferente. Os galhos se sacodem agitados e gemem gué, gué, gué... quando há vendavais. Mas quando tudo está quieto, parece que eles sussurram ou cochicham segredos... É lindo! Repousante.
E para encerrar, nada melhor que isso:
“Quisera que a minha vida fosse igual a uma flauta de bambu: simples, reta e plena de música”
Quem dera!
Mirandópolis, fevereiro de 2013.


kimie oku in
    http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/

        Observação: Reescrito em 20 de fevereiro de 2020

Nenhum comentário:

Postar um comentário