domingo, 27 de novembro de 2011

CIRANDA - SOLIDÃO (crônica)

       Tenho um sonho, que gostaria de realizar um dia. 
     Sei que é muito ambicioso e que  sozinha não conseguirei realizá-lo.
     Gostaria de organizar uma casa de campo, onde se reuniriam as pessoas idosas e sozinhas.
     Não seria uma casa de repouso, nem seria um hospital, tampouco um asilo.
     Seria um local de encontro, de lazer  só para  as pessoas  sós e idosas, que moram sozinhas.
     Todo ser humano, desde que nasce gosta de ter um cantinho só seu. Até os animais são assim.  É por isso que as pessoas preferem ficar sós,  do que deixar  seu canto.
     Imaginem os idosos que viveram quarenta, cinquenta anos em companhia de alguém,  partilhando  as tristezas e as alegrias de uma vida inteira.  Imaginem essas mesmas pessoas serem retiradas de seus  cantos,  onde há tantas lembranças, e serem levadas  a um ambiente  estranho e totalmente impessoal.
      Falo de casas de repouso,  asilos  e  hospitais.
      Sei que às vezes,  é necessário internar pessoas nesses lugares. E que as instituições tentam o melhor, para tornar mais seguro e confortável, o final de vida dessas pessoas.
      Às vezes, essas casas se transformam em depósitos de velhinhos, que ninguém quer.
      É por isso que me dói tanto e, comecei a acalentar esse sonho.
      Precisamos repensar a nossa relação com os parentes,  avós,  pais,  sogros,  tios, amigos, vizinhos,  que estão envelhecendo  e ficando  sós.  Se pararmos agora para  enumerar os  idosos solitários da cidade,  num instante acabaremos contando mais de vinte,  só na vizinhança.
      É urgente repensar  o funcionamento das instituições.
      É urgente,  porque a população idosa está crescendo muito. Em 2009, o Japão anunciou que, pela primeira vez na História, sua população centenária ultrapassou os 40 mil.
      Essa tendência vai se propagar muito mais, com o estilo de vida mais saudável, que a humanidade está adotando.
      Mas como seria essa casa ?
      Seria no campo, cercada de verde,   de um jardim cheio de  borboletas  e  beija-flores... teria caminhos  sombreados por frondosas árvores.  No quintal,  cães latindo,  no pasto gado mugindo  ... e muitos  pássaros,  tuins,  maitacas,  quero-queros... enfim,  seria  um lugar que,  as pessoas gostariam de ir   pelo menos mais uma vez,  antes de  partir  para  sempre.
      Como funcionaria ?
      Uma vez por semana,  seria promovido um encontro de todos os idosos,  que assim  o desejarem.
      Seriam levados por parentes ou voluntários, com suas  bengalas,  muletas,  cadeiras  de rodas,  suas  mantas,  seus remédios... Lá chegando, um passeio para respirar o ar puro e abraçar os amigos.  Então,  a fase seguinte seria a da conversação,  sob as árvores em cadeiras confortáveis,  trocando notícias de filhos,  netos,  vizinhos,   enfermeiros,  cirurgias, dores, remédios, terapias, enfim, alguém os escutaria com atenção  e carinho.
       O dia terminaria  com uma brincadeira de roda, ou só cantando velhas canções e até do cancioneiro infantil... e uma merenda que todos compartilhariam,  porque comer sozinho não tem graça.
       Depois, a volta para casa. Cada qual para o seu cantinho abençoado.
       Utopia?
       Quem sabe?
       Só tentando para conferir. 
       Alguém não teria um lugar assim para iniciar  esses encontros ?
       Alguém se habilitaria em me ajudar ?

              Mirandópolis, fevereiro de 2010.
                                                      Kimie Oku

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