sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

            GENTE  DE  FIBRA    -   JOSÉ  CÉSAR  GONÇALVES  


                      José César  Gonçalves é um dentista muito popular na cidade. Não só como profissional competente, mas também por suas atividades sociais.
      Zé César, como é conhecido nasceu há 60 anos, aqui em Mirandópolis, filho de José Gonçalves agricultor e de dona Altaira, professora.
José César Gonçalves  Fez os estudos básicos nas escolas do Estado, e diz que não gostava muito de estudar. Ao chegar ao Colegial porém, começou a levar a sério os estudos. Junto com outros colegas iam à biblioteca, para reforçar os conhecimentos, preocupados com os vestibulares que teriam que enfrentar.
   No entanto, estava muito inseguro para escolher um curso profissionalizante. Pensava em ser Professor de Inglês.
    Um dia, junto com outros colegas foram visitar a Faculdade Auxilium de Lins.  Lá estudavam na época, Gabriel Tarcizzo Carbello e  Sérgio Sepulcre, irmãos de colegas de classe.
    Os meninos  foram conhecer  o ambiente de uma faculdade. E  os irmãos   apresentaram os diferentes departamentos de estudo.
     Mas, Zé César  teve uma impressão ruim do ambiente da ala de Odontologia, e sentiu-se mal com o cheiro que emanava dos equipamentos e dos remédios.
     Voltou para casa mais inseguro ainda.
     Um dia, o seu amigo e colega Edvaldo Loureiro veio convidá-lo para fazer a inscrição para o Vestibular da Unesp de Araçatuba, para o Curso de Odontologia.
     Isso ocorreu durante um almoço, com os pais presentes.
    O pai, sr José ficou entusiasmado com a idéia e o convenceu a ir. Zé César foi, mas  bastante  contrariado, porque naquela época, não se discutia e muito menos se desobedecia à ordem de um pai. Achava que nunca seria um dentista. Foi e passou.  Conseguira uma das oitenta disputadíssimas vagas.
    Quando saiu o resultado, em que o amigo Edvaldo também foi aprovado, Zé César ficou tão feliz, que levou o jornal com a sua classificação  para a avó ver.
    Foi uma das últimas alegrias da avó, porque pouco tempo depois viria a falecer.
    Era ainda o tempo de FOA, ou seja Faculdade de Odontologia de Araçatuba,  hoje conhecida como Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho  da Unesp, que  agregou mais tarde, o Curso de Veterinária.
    Como temia, o Curso não lhe agradou. Tinha muita vontade de desistir, mas foi continuando, até que no meio do primeiro ano, começou a gostar  um pouco.
   Alguns colegas acabaram desistindo, porque o curso era bem puxado mesmo.
   No terceiro ano, com o atendimento aos pacientes reais, percebeu a importância da profissão. E também percebeu que  só uma teoria firme e sólida, poderia dar a segurança para a prática da profissão.
    Mas a verdadeira  segurança e confiança ele foi obtendo durante os Projetos Rondon que participou.
      Primeiro, foi em Cajobi, perto de Olímpia, onde atuou por 15 dias, cuidando dos pacientes, sem a orientação de um professor. Foi seu batismo de fogo. 
     O segundo Projeto Rondon foi em Pauini,  na margem esquerda do Rio Purus , divisa de Amazonas com o Estado do Acre.
    A equipe se compunha de sete estudantes:  um de Medicina, um de Odontologia, um de Engenharia Civil, um de Direito, um de Pedagogia e dois de Assistência Social.
     Após um rigoroso treinamento em Rio Preto, foram levados até o vilarejo de destino, por um hidroavião.
      A cidadezinha minúscula se compunha de palafitas, isto é casas construídas no alto de estacas , para se proteger das das cheias do Rio. Era de uma pobreza completa e a população se compunha de índios da nação Jamamadi e nordestinos.
     Era em plena floresta amazônica, e muitos índios viajavam o dia todo de botes no Rio Purus, para chegar até o Posto de atendimento, a fim de extrair seus dentes.
     Zé César lembra que trabalharam muito, porque  não havia nenhuma assistência  na região. E  lembra que foram bem tratados com farinha dágua, tapioca e carne de tracajá.
     Lembra ainda que, o comércio funcionava por escambo, isto é por troca de mercadorias. O seringueiro trocava suas bolotas de látex, por roupas e material de pesca.  A moeda de troca mais comum eram  as castanhas do Pará.
      Esses trinta dias na Floresta Amazônica realmente marcaram o nosso dentista. E  atingiram plenamente  o objetivo do Projeto Rondon, que era fazer o aluno , futuro profissional conhecer a realidade brasileira. Para esse fim, enviava jovens da  Região Sul para o Norte, e do Norte para o Sul.
     O terceiro Rondon foi em Jacupiranga, perto de  Registro, no Vale do Ribeira,  a região mais pobre do Estado.
     Depois de formado, Zé César foi tomado de insegurança para instalar seu consultório aqui na cidade, onde atuavam profissionais competentes, como o Dr.Rubens, o Dr. Kido, o  Dr. Sunada. Achava que nunca iria emplacar com tanta concorrência,  tão sólida e bem estabelecida.
    Daí, foi até o Vale do Ribeira para pesquisar um lugar, para começar o seu  trabalho. Mas, acabou acatando a idéia do pai e instalou o seu gabinete dentário junto da casa de seus pais.  A insegurança não era em relação  ao trabalho. Estava muito seguro e sabia que daria conta do recado. Só se sentia intimidado e com receio de não ser aceito, como um outro dentista na cidade.
     Mas, pouco a pouco foi conquistando a clientela, e de lá para cá já  se passaram 35 anos de muito trabalho.
    Zé César se casou em  79 com a senhorita Nize Aurora Florindo, professora, com quem teve dois filhos : a filha se formou em Jornalismo e o filho está fazendo Fisioterapia. Têm ainda, um neto.
     Zé César é um apaixonado pela profissão. Diz que se realizou como dentista , e  é muito grato  ao amigo Edvaldo Loureiro , que o levou a fazer o Vestibular da Unesp e ao pai  que o forçou a ir. Sem o empurrão deles, não seria o profissional feliz que é hoje...Seu único objetivo  como odontologista  é deixar o cliente satisfeito e feliz.
     Além da sua profissão, Zé César sempre gostou de jogar bola.  Quando seu filho era criança, Zé César formou um time de futebol de rua. Era o time Fraldinha, que durou 3 anos, e revelou o jovem Xuxa, que hoje joga no Futebol de Salão profissional na Itália.
      Outra ação que costuma realizar é ajudar no Leilão de gado da APAE. E o faz desde 1987, com muito prazer. Foi Presidente  da comissão do Leilão em 2001, 2002 e 2003 .
    E de 2008 a 2010 foi Presidente da entidade, acompanhando todas as ações, para aplicação das verbas angariadas. Diz que a instituição é muito bem organizada e  tudo funciona corretamente.
    E diz que desde 1995, é  prestador de serviços voluntários da APAE. Desde aquele ano, vai todas as terças-feiras  cuidar de dentes dos alunos da escola. São duas horas semanais de doação, que lhe dão muita satisfação, por se sentir útil servindo ao próximo.
     Além dessa longa história de sua vida, Zé César me revelou algo muito tocante.  Após a partida de sua mãe, a doce Dona Altaira, descobriu guardadas como um tesouro, as cartas de amor trocadas por seu pai, José Gonçalves e ela, antes de se casarem. Disse que ficou muito emocionado ao perceber o que eram, e não conseguiu lê-las, movido por profundo amor e respeito a eles.
   José César Gonçalves, profissional competente, que no anonimato realizou tanto, ajudando a construir uma sociedade melhor,  feliz no que faz  e  grato a quem o direcionou a essa profissão, é sobretudo, gente de fibra!
         





Mirandópolis, 11 de dezembro de 2011.
                                  Kimie oku


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