domingo, 4 de dezembro de 2011

A ORAÇÃO

    A oração é sem dúvida, um dos paradigmas para diferenciar o homem do animal.
       O homem ora, as bestas não.

  Não importam os credos, as religiões, as seitas. Não importam as raças, as tribos, o grau de civilização. Não importa o lugar,  se nas grandes metrópoles, nas perdidas ilhas do  oceano, no recôndito da floresta.
     Se o homem lá estiver, ele orará.. Se já esteve, orou. Há um milhão de anos, há cem anos, ontem, hoje, agora....  
     Povos desconhecidos que pisaram esta Terra, tribos perdidas nos confins do mundo, todos oraram.
      Oraram para o deus Sol, para a Lua,  para a Montanha,  para o deus das Chuvas, do Raio, do Fogo, do Vento, do Mar, da Floresta, da Terra.
     E essa vocação de se curvar, diante de algo mais forte e misterioso,  foi espontâneo. O homem, frágil  criatura, acuado pelo medo, pela dor, por desespero, rendeu-se a uma entidade superior, a que chamou Deus.  
      E daí  para cá, houve Brâmane, Buda, Cristo, Alá...
     E as crenças tomaram  diferentes formas e caminhos. E por conta disso, foram levantados templos, sinagogas, 
 igrejas, pagodes, mesquitas.
   E monges, bonzos, ministros, padres, sheiks,  pajés e rabinos se multiplicaram, pregando a sua crença, a sua  fé ou idolatria.
   E todos , nessa variedade infinita de orações e pregadores, estão voltados para Deus.  Deus que é um só, não importam os diferentes nomes que lhe deem.
      Por quê o homem ora?
    Porque é carente. Carente de segurança,  carente de fé, carente de amor
    Quando se esgotam todos as opções, para resolver questões fundamentais, o homem procura Deus.
     Mesmo um indivíduo cruel, diante de uma ameaça, ou frente à morte, se rende  e pede clemência a Deus. Porque na essência, o homem é um espírito. 
     E a oração é um diálogo espiritual da criatura com o Criador.  
   No velório de um amigo, percebi que os  familiares estavam desolados nos cantos, cada um fechado na sua dor. Silêncio total, quebrado por soluços inconsoláveis, aqui e ali.
    Nisso, chegou um amigo do falecido, e sem dizer nada, começou a rezar um terço.
   Pouco a pouco, os familiares se acercaram do esquife, junto do que rezava, e repetiram as orações.
   Aos poucos, os soluços foram parando e as lágrimas secaram. Quando a cerimônia terminou, os parentes  estavam todos abraçados, consolando-se mutuamente. 
   E tive a nítida impressão que, a dor maior havia se evaporado.
      O que é a oração?
     É a conversa mais íntima com Deus.  É o momento que o crente desnuda a alma, e fala ao Criador. 
     Por isso, não é necessário recitar orações-padrão,  sutras, fórmulas mágicas, nem litanias. 
    Basta se abrir com Deus. Silenciosamente. Murmurando. Cantando. Ou mesmo bradando em altas vozes, na hora do desespero.
     Porque Deus ouve.
     Mas é preciso agradecer, também.
    Agradecer a saúde, o alimento, a chuva,  a luz do sol, a família, a alegria e a bênção de viver.
   Li em alguma revista japonesa, o depoimento de um intelectual estressado, que tomava  uma porção de remédios e estava sempre mal humorado.
     Um dia, alguém lhe ensinou um segredo, e ele passou a praticá-lo. De manhã, ao despertar, ele se voltava para  onde o sol desponta, e juntando as mãos,  agradecia a noite bem dormida. Depois, pedia para Deus lhe abençoar  o novo dia. À tarde,  ele se voltava para o poente e agradecia tudo que vivenciara naquele dia. Depois de algum tempo,  o mal humor se fora, deixou de se estressar, e dispensou os remédios.  Pequenos segredos que ajudam a viver o dia a dia, sem estressar-se.
    Nessa semana que passou, toda a população da cidade orou por um garotinho, que está lutando bravamente para sobreviver. E nessa hora, sentimos como a espiritualidade vem à tona, e faz de uma comunidade, uma família. Todos ligados na mesma dor, na mesma esperança,  no mesmo desejo.
     Desejo de ser ouvido por Deus. 
     Mas, quem sabe os desígnios de Deus?

     Mirandópolis, 27 de maio de 2011.
          kimie oku  

Post scriptum :  as orações de toda a população foram  pelo pequeno Breno, vítima de queimaduras.



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