quarta-feira, 21 de dezembro de 2011


YOSHIO – SAN    (memórias)

Era um japonês de uns trinta anos.

Usava um camisolão preto, como batina de padre. De padre pobre, porque  o camisolão de tão gasto estava avermelhado e  puído, em vários lugares. Andava sempre descalço. Tinha a cabeça raspada, a pele amarelada, e olhos tão apagados, sem vida. Caminhava devagarzinho  pelo  quintal, varrendo o chão de areia, com a aba de seu camisolão.
Todos os dias, catava gravetos secos, à sombra das enormes mangueiras, juntando-os cuidadosamente  no braço esquerdo, e ninando-os por horas, andando pra lá, pra cá e dizendo  “ria, ria, ria, rá, rá, rá...”
Parecia estar ninando um bebê de verdade.
Ele não sabia se comunicar com ninguém, e a família o tratava  como um estorvo.
E por ser um tipo estranho, era sempre alvo da maldade dos moleques. Atiravam-lhe pedras, e levantavam a saia, para lhe espiar as partes íntimas.  Como era alienado, não entendia nada, mas fugia de medo dos meninos.
Um dia, a família toda foi trabalhar, e para ele não fugir de casa, prenderam-no  na despensa, por horas. Quando  voltaram da roça, notaram que ele  havia comido um cacho de bananas, que havia lá.
Sempre achei que, era apenas um anjo caído do céu, por descuido de Deus.
Yoshio-san.

Mirandópolis, qualquer dia de 2010.
Kimie oku

Nenhum comentário:

Postar um comentário