quarta-feira, 21 de dezembro de 2011


           DÉRFI
(memórias)

        Eram os anos 50.
        Dérfi era o peão que estava sempre à mão.
        Era magro, comprido, sem cor definida, feio como uma briga de foices em noite escura. A barba sempre espinhuda.
        Mas era pau para toda obra.
        Derriçava e abanava café, colhia algodão, capinava, partia lenha, tratava de porcos e tocava boiada.
        Todas as tardes após cuidar dos porcos, ia ao curral e chamava: “Vem, vem,vem, em, em , em.....”  e a boiada vinha.
Dava milho e apartava os bezerros.
        Dérfi devia chamar-se Delfino, talvez. Para nós era o Dérfi, apenas. Era um homem simples, sem muita conversa, mas trabalhador como ninguém. Não parava quieto, e ninguém precisava lhe dar ordens, porque ele fazia o que tinha que fazer, e até o que  não era sua obrigação.
        Volta e meia dava um “banzo”  nele e sumia lá pro Norte, talvez Bahia, talvez Pernambuco. Ficava um bom tempo por lá.
        De repente, voltava.
        Bêbado, moído, sofrido, em trapos.
        Ficava dois dias de molho.
        Aí, acordava e retomava o serviço, como se nada tivesse acontecido. Sempre tranqüilo, sem amolar ninguém.
        Ficava uma safra de café, uma de algodão e depois sumia no mundo. Ninguém sabia para onde ele ia.
        Como era pau para toda obra, todos sentiam sua falta e se
perguntavam: “Cadê o Dérfi? Cadê o Dérfi?”
        Um dia não voltou mais, nunca mais.
        “Cadê o Dérfi?”

                        Mirandópolis, abril de 2010.
                                           Kimie oku

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